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Foto do escritorPsicóloga Luciana Salvador

O mundo através de lentes cinzas: o Transtorno Distímico


Venho hoje falar sobre um transtorno que ainda é pouco conhecido e comentado, contudo bastante frequente nas pessoas e que traz um sofrimento significativo tanto para quem apresenta como para pessoas que convivem ao seu lado: a Distimia.

Você conhece pessoas que possuem um mal humor constante, que não sentem prazer nas coisas e raramente estão alegres? Essa pessoa pode não ter uma Depressão propriamente dita, mas sim um Distimia. As pessoas com Distimia, ao contrário das que possuem Depressão, geralmente conseguem levar uma vida “normal”, trabalham, estudam, fazem planos, têm relacionamentos adequados. Contudo internamente sentem pouca alegria e prazer na vida, dificuldade de comemorar coisas boas e de serem expansivas. Podem ter as mesmas experiências que outras pessoas teriam, contudo internamente sem prazer, como se vissem a vida através de uma “lente cinza”.

Por ser um quadro diferenciado da Depressão, A Distimia é considerada por alguns autores como uma “depressão leve” ou uma forma subclínica de Depressão. Outros autores entendem a Distimia não necessariamente como um transtorno e sim como uma forma de personalidade que formaria um “temperamento melancólico”. A pessoa que apresenta Distimia muitas vezes não terá uma Depressão que lhe causará prejuízos significativos na vida, contudo ela acaba deixando de viver sua vida de forma mais plena do que poderia se pudesse sentir prazer.

O psiquiatra Kraeplin, em 1921 caracterizou o temperamento depressivo (que aparece na Distimia) pela presença constante de tristeza, ansiedade, pessimismo e falta de prazer. Schneider em 1923 descreve como características de pessoas com esse temperamento: a) o pessimismo, a tristeza, a seriedade e a incapacidade de sentir prazer ou relaxar, b) a desconfiança, c) a preocupação exagerada com o sentido da vida, d) a noção extrema de dever, com rigidez, e) ceticismo extremo, f) autocrítica exagerada.

No livro “Distimia: do mau humor ao mal do humor”, os autores referem que a forma mais característica de Distimia é aquela que inicia na infância ou adolescência. Ou seja, essa tristeza e falta de prazer acompanham o indivíduo há bastante tempo e não aparece somente em uma situação difícil da vida.

Justamente por iniciar cedo na vida, é comum que essas pessoas e outras ao seu redor nem percebam tratar-se de um transtorno, mas considerem essas características como fazendo parte da personalidade do indivíduo. Muitas vezes para o paciente distímico, é comum não sentir prazer com as coisas e, somente depois de um tratamento bem sucedido, é que percebe o quanto seu estado de humor estava abaixo do normal.

Portanto, sentir falta de prazer e de alegria durante muito tempo pode ser uma patologia. A psicoterapia pode auxiliar de maneira bastante eficaz essa pessoa tratando aspectos de sua personalidade para que ela consiga efetivamente sentir as coisas boas da vida.

Referências:

Cordás, T. A. et al. Distimia: Do Mau Humor ao Mal do Humor. Porto Alegre: Artmed, 1997

Ratey, J. J. e Johnson, C. Síndromes Silenciosas: como reconhecer as disfunções psicológicas ocultas que alteram o curso de nossas vidas. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997.

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